quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Cativeiro

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eu cativo do tempo, carcereiro imaginário

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e passa o carcereiro tempo, pra cá e pra lá...

passa o tempo a vigiar o tempo

caminha surdo e lento pela sombra do corredor

- cativeiro do tempo e meu -

cheiro de mofo, paredes infiltradas, reboco descascado

teto caótico de fios e fendas e manchas e trincas

lascas da pintura antiga na eminência de despencar

sobre o chão maltratado e sujo, imundo e fluido

luzes mortiças, bulbos pretos de inseto, luminárias decadentes

arandelas indecentes, azinhavre e ferrugem, luz mortiça

corredor impossível, imenso claustrofóbico

reto, labiríntico, anguloso, vermicular

(absurdo sem-fim, Escher)

aqui, cativos do tempo, eu e o tempo...

...

mas virá outro tempo

(que agora nunca chega...)

libertará do cativeiro este tempo

e a mim da consciência de prisioneiro

(que jamais deixarei de ser...)

sim, liberto

com ele?... dele?...

liberto como a ave que cantará lá da gaiola nas primeiras luzes do dia redentor?...

- precursor de outra noite, a próxima?...

(mas e esse tempo que nunca chega agora... eterno agora)

...

ah, conforto morno úmido da prisão imunda

que eu quererei quando liberto pelo tempo

ansioso pelo tempo, o próximo...

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...e o tempo carcereiro passa imaginário (eterno agora) pra lá e pra cá...

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(imagem)

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