segunda-feira, 25 de abril de 2011

"Os Discípulos do 'Bom Sofista'"

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Na última postagem da série sobre fé e razão, os pré-socráticos e a metafísica  apartada do "pensar em deus". Neste ensaio, Sócrates, Platão e Aristóteles repensam o divino.

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Os discípulos do 'bom sofista'

Discípulo de Sócrates e mestre de Aristóteles, Platão de Atenas (Arístocles, segundo alguns) lança as fundações sobre as quais se arquitetará toda a filosofia ocidental. Pela noção de que o homem está permanentemente em contato com as realidades sensível e inteligível, o fundador da Academia restabelece com propriedade a união entre a physis e o nômos; por sua concepção da Teoria das Formas, a dinâmica humana volta a se estabelecer sobre bases permanentes, sustentada por algo absoluto, eterno e imutável – o Mundo das Idéias. Assim, o Ideal Platônico reassume o "pensar em deus" calcado em fundamentos racionais; e relega, definitivamente, o misticismo e a crença a um plano secundário. Seu legado influenciará, em maior ou menor grau, os próximos milênios do pensamento filosófico.

Mas será em Aristóteles, seu discípulo, que o pensamento especulativo-racional sobre o divino assumirá contornos mais lógicos e sistemáticos, até então inéditos no contexto do metafísico e do sobre-humano. Para o preceptor de Alexandre Magno, deus seria o Primeiro Ato e o Ato Puro, o primeiro de uma série de atos decorrentes que, por sua vez, antecedem uma série de Potências, isto é, a série de forças motrizes de toda e qualquer transformação, de todo e qualquer movimento e de toda e qualquer geração, sejam esses conceitos inerentes ao domínio do natural – physis – ou à esfera artificial – nômos.

Ainda segundo o sábio de Estagira, a natureza desse Primeiro Ato (que seria deus) é inteligível ao homem tão-somente pelo que não é, pois o que é não se pode dizer com os recursos dos limitados artifícios do intelecto e da linguagem. Dele se exclui tudo o que seja imperfeito, limitado ou dividido; nele não há nada de acidental, de material ou de potencial; nele há o que há, pois ele é o que é (note-se a associação com o nome hebraico YHWH – ou Javéh, transliterado – que significa precisamente ‘aquele que é’). Nesta inefável plenitude do seu próprio ‘Ser’, este ente absolutamente perfeito é o Pensamento que se pensa a sim mesmo, é a Consciência que repousa na plena posse de si mesma, é o incontingente que a tudo contém (aqui, o filósofo clássico antecipa em dois milênios o argumento da contingência do filósofo racionalista).

Deus subsistiria, enfim, como perfeita acepção de si mesmo na absoluta contemplação de sua própria, eterna e plena existência; e para o homem, é ideal inalcançável, embora (quase) sempre buscado.

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(No próximo post: Patrística, Escolástica e Idade das Trevas)
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