sexta-feira, 27 de abril de 2012

O "puta que os pariu" de Saramago

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Mais um artigo memorável de José Saramago. Neste, o mestre de Lanzarote, homem sábio e elegante, de princípios e valores, não se desvia da honestidade de seus sentimentos para usar com categoria o inalienável privilégio humano de harmonizar estrondosos palavrões. Para quem não os usa, ou mesmo os critica, desafio a experimentar. A "impropriedade" deixa na boca um sabor agradável de foda-se!..

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Regressados de uma viagem à Argentina e Bolívia, os meus cunhados Maria e Javier trazem-me o jornal Clarín de 30 de Agosto. Aí vem a notícia de que vai ser apresentada ao Parlamento peruano uma nova lei de turismo que contempla a possibilidade de entregar a exploração de zonas arqueológicas importantes, como Machu Picchu e a cidadela pré-incaica de Chan-Chan, a empresas privadas, mediante concurso internacional. Clarin chama a isto "la loca carrera privatista de Fujimori". O autor da proposta de lei é um tal Ricardo Marcenaro, presidente da Comissão de Turismo e telecomunicações e Infra-Estrutura do Congresso peruano, que alega o seguinte, sem precisar da tradução: "En vista de que el Estado no ha administrado bien nuestras zonas arqueológicas – qué pasaría si las otorgaramos a empresas especializadas en otros países con gran efectividad?"

A mim parece-me bem. Privatize-se Machu Picchu, privatize-se Chan Chan, privatize-se a Capela Sistina, privatize-se o Pártenon, privatize-se o Nuno Gonçalves, privatize-se a Catedral de Chartres, privatize-se o Descimento da Cruz, de Antonio da Crestalcore, privatize-se o Pórtico da Glória de Santiago de Compostela, privatize-se a Cordilheira dos Andes, privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E, finalmente, para florão e remate de tanto privatizar, privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo... E, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos.
José Sarmago
 
Em Cadernos de Lanzarote – Diário III, págs. 147/8
 
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Exumando Saramago: "Perdão para Darwin?"

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Relendo os Cadernos de Saramago, encontrei este que se segue, entre outros ótimos artigos do saudoso mestre de Lanzarote.

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Perdão para Darwin?

Uma boa notícia, dirão os leitores ingénuos, supondo que, depois de tantos desenganos, ainda os haja por aí. A Igreja Anglicana, essa versão britânica de um catolicismo instituído, no tempo de Henrique VIII, como religião oficial do reino, anunciou uma importante decisão: pedir perdão a Charles Darwin, agora que se comemoram duzentos anos do seu nascimento, pelo mal com que o tratou após a publicação da Origem das Espécies e, sobretudo, depois da Descendência do Homem. Nada tenho contra os pedidos de perdão que ocorrem quase todos os dias por uma razão ou outra, a não ser pôr em dúvida a sua utilidade. Mesmo que Darwin estivesse vivo e disposto a mostrar-se benevolente, dizendo “Sim, perdoo”, a generosa palavra não poderia apagar um só insulto, uma só calúnia, um só desprezo dos muitos que lhe caíram em cima. O único que daqui tiraria benefício seria a Igreja Anglicana, que veria aumentado, sem despesas, o seu capital de boa consciência. Ainda assim, agradeça-se-lhe o arrependimento, mesmo tardio, que talvez estimule o papa Bento XVI, agora embarcado numa manobra diplomática em relação ao laicismo, a pedir perdão a Galileu Galilei e a Giordano Bruno, em particular a este, cristãmente torturado, com muita caridade, até à própria fogueira onde foi queimado.Este pedido de perdão da Igreja Anglicana não vai agradar nada aos criacionistas norte-americanos. Fingirão indiferença, mas é evidente que se trata de uma contrariedade para os seus planos. Para aqueles republicanos que, como a sua candidata à vice-presidência, arvoram a bandeira dessa aberração pseudo-científica chamada criacionismo.
José Saramago
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quinta-feira, 26 de abril de 2012

Dois fernandos, dois robertos, uma CPI e muitos rabos

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Afinal, de onde viria tal resistência do PT, personificado por seu líder na Câmara, deputado Gilmar Tatto, em atender à sugestão do deputado Fernando Ferro (que é do PT) e ao pedido do senador Fernando Collor (elle mesmo, fazer o quê?..) de convocação de Roberto Civita e Roberto Gurgel, respectivamente, para deporem na CPI do Cachoeira?

Tratam-se de dois depoimentos da maior relevância, importantes para lançar um pouco de luz nas sombrias rotas de influência que copiosamente efluem da Cachoeira goiana. A proteção aos referidos, pelo poder ou pelo cargo – um deles, editor da revista de maior circulação no país; outro, procurador-geral da República reconduzido por certos auspícios – é argumento que a sociedade não pode mais aceitar. Não se pode mais permitir que o cargo, o poder econômico ou o renome se preste de escudo para quadrilheiros travestidos de cidadãos respeitáveis. Em que pé ficamos, afinal, com o originalíssimo "doa a quem doer" – que certa vez o próprio Collor imortalizou em indefectível castelhano?

Aliás, a pergunta que abre este comentário, é retórica. E o que se expressa a seguir, na ingenuidade patente nas queixas do segundo parágrafo é, como se diz em inglês, nada além de Wishful Thinking – os poderosos e seus capangas serão, hoje e sempre, amparados e blindados pela influência do poder... Voltando, enfim, à pergunta, sabemos muito bem porque PT e seu líder, deputado Gilmar Tatto, resistem ao pedido dos fernandos – que, a propósito, não é deles, é clamor da sociedade que representam. A resistência, cândido leitor, para a convocação os dois robertos, está nos rabos.
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Upload em 27/04/2012

Senão, vejamos:
http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/56341/Globo-Abril-e-Folha-se-unem-contra-CPI-da-mídia.htm
(contribuição da Mariê)
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O blog recomenda: Cinema Secreto

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Cinema Secreto: Cinegnose, como define o próprio autor, "é um blog dedicado à divulgação e discussão de resultados de pesquisas e insights em torno das confluências entre Gnosticismo, em particular, e das representações e experiências do Sagrado no Cinema, Audiovisual e Cultura Pop em geral".

Ainda que o leitor eventualmente não se interesse pelo bocado místico ou filosófico-especulativo do blog, o tratamento analítico dos filmes comentados já se presta ao proveito do visitante cinéfilo. Tratamento este, diga-se, pautado por informações de qualidade e caracterizado pela pertinência das análises, para dizer o mínimo. Recomendo, portanto, e replico a postagem mais recente.

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Scorsese faz crítica à cultura das celebridades no filme "O Rei da Comédia"

O filme mais injustiçado da carreira do diretor Martin Scorsese, “O Rei da Comédia” (The King of Comedy, 1983) na época foi um fracasso de bilheteria. Ao contrário da sexualidade e violência de personagens dos filmes anteriores “Taxi Driver” e “Touro Indomável”, o diretor apresentou ao público um Robert De Niro contido e o comediante Jerry Lewis enfadado e amargo. Scorsese mergulha fundo na cultura da celebridade contemporânea ao nos mostrar um fã que vive até o extremo a fantasia de tornar-se um astro da TV. Como? Sequestrando o próprio ídolo. À frente do seu tempo, Scorsese antecipa o atual interesse mórbido pelas celebridades onde elas são mais invejadas do que admiradas. E por trás da inveja escondem-se a solidão e o ressentimento.

O solitário é aquele que tem tempo de sobra para pensar em sua total insatisfação, o infeliz é aquele que jamais terá essa oportunidade. (Alfred Adler)

Para ser feliz, é preciso ser conhecido? Em um mundo atual onde o número de “seguidores” no twitter ou de “amigos” no facebook cada vez mais se torna a medida da própria identidade do indivíduo, parece que sim. Essa medida de felicidade se insere na chamada “cultura da celebridade” onde a vida real acabou misturando-se com categorias do entretenimento como a “fama”, “sucesso”, “desportividade”, “passatempo”, “escapismo” etc.
 
E a busca dessa celebrização de si mesmo implica em um novo ascetismo, dessa vez mundano: esforço diário em cultivar uma rede de “amigos”, esforços logísticos em criar acontecimentos que atraiam a atenção de todos (e se possível da própria mídia), dedicação e esforço em focar seu pensamento ao sucesso, capacidade em desprezar fatos reais que entrem em contradição com a imagem que o indivíduo quer criar para todos etc. Tudo isso cria uma luta brutal contra si mesmo, em negar a própria solidão e insatisfação através da hiperatividade voltada ao mundo exterior.
 
O diretor Martin Scorsese vai a fundo nessa espécie de psicologia da moderna cultura da celebridade em “O Rei da Comédia” (The King of Comedy, 1983), um filme árido e doloroso ao representar tão bem a miséria interior de um protagonista que faz de tudo para alcançar a celebridade para escapar de uma vida vazia e infeliz. Depois de Scorsese apresentar personagens repletos de violência e sexualidade nos filmes anteriores “Taxi Driver” (1976) e “Touro Indomável” (1980), em “O Rei da Comédia” vemos personagens agonizando na solidão e raiva, porém, contidos e emocionalmente estéreis. O diretor conseguiu arrancar performances contidas e sutis de um comediante (Jerry Lewis) e um ator (Robert De Niro) que, até então, notabilizaram-se por representar personagens urgentes e intensos.
 
 
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Manchete

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Manchete, primeira edição

Há 60 anos, chegava nas bancas a primeira edição da Revista Manchete. Criada por Adolpho Bloch, a revista surge em 26 de abril de 1952 para concorrer com a mais importante revista brasileira da época, O Cruzeiro. Inspirada na francesa Paris Match, Manchete emprega uma concepção moderna e utiliza como principal forma de linguagem o fotojornalismo. O semanário de Adolpho Bloch experimenta sucesso rápido, em poucas semanas atinge o topo da lista das revistas de maior circulação nacional. Na fase áurea, conta com colaboradores do renome de Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Paulo Mendes Campos, Rubem Braga e Nelson Rodrigues. Com o fim de O Cruzeiro, em julho de 1975, alcança a hegemonia na categoria. Em 2000, com a falência da Bloch Editores, a revista deixa de circular periodicamente. A partir de 2002, sob nova editoria, é relançada esporadicamente com limitada expressão.

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Com informações da Rádio Nacional FM 96,1 MHz, Brasília

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quarta-feira, 25 de abril de 2012

Sistema de Cotas e Prouni: hoje no STF

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STF julga hoje ações contra cotas em universidades e Prouni


Angela Chagas
Terra Notícias
O Supremo Tribunal Federal (STF) vai julgar nesta quarta-feira a constitucionalidade da reserva de vagas em universidades públicas por meio das cotas raciais e a ação que contesta o perfil do estudante apto a receber bolsas do Programa Universidade para Todos (Prouni). As duas ações sobre as cotas raciais que serão analisadas pelos ministros a partir das 14h foram movidas contra a Universidade de Brasília (UnB), a primeira instituição federal a conceder vagas a estudantes negros, e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que implementou um programa voltado para alunos de escolas públicas e negros a partir de 2008.

A ação contra a UnB foi ajuizada em 2009 pelo DEM, que questiona a reserva de 20% das vagas na instituição a estudantes negros. Segundo o partido, essa política fere o princípio constitucional da igualdade nas condições de acesso ao ensino superior. O programa foi instituído em 2004 e desde então já beneficiou mais de 5 mil alunos. "O sistema de cotas da UnB é uma ação emergencial para recuperar as condições históricas de preconceito com essa população. Estamos contribuindo para que o Brasil sinta orgulho em falar que tem negro na universidade, na ciência, e não só na música e no futebol", diz o professor Nelson Fernando Inocêncio da Silva, coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da UnB.

A estudante de Ciência da Computação Lizane Leite, que entrou na universidade em 2009 pelo sistema de cotas, concorda que o programa atende a população que sofre com o preconceito. "Só porque você entra na universidade por meio das cotas não é porque você é mais burro que os outros. Eu entendo como uma forma de beneficiar as pessoas que sofreram preconceito durante toda a história do Brasil e que, como eu, ainda precisam superar muita discriminação". Lizane tem 21 anos e está no sexto semestre na faculdade. Ela conta que sempre estudou em escolas particulares e que hoje se sente mais incluída socialmente do que na infância e na adolescência. "Na universidade me sinto respeitada. Mas já precisei superar muitos desafios por ser negra", afirma.

Contrário ao sistema adotado pela UnB, o professor emérito da Universidade de São Paulo (USP) e docente de Antropologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, João Batista Borges Pereira, defende que a política de cotas sociais - voltada para alunos de baixa renda e de escolas públicas - é mais eficiente para resolver a "disparidade de condições" no acesso ao ensino superior do que cotas raciais. "Sou favorável à cota social porque ela beneficia o negro, que hoje não tem acesso ao ensino no Brasil não pela sua cor, e sim porque é pobre", afirma ao destacar que todos aqueles que não têm condições financeiras de arcar com uma educação de qualidade merecem a reserva de vagas, independente da cor.

Cota social da UFRGS é reserva de mercado para escola pública, diz advogado

Outro tema polêmico que será julgado nesta quarta-feira é uma ação ajuizada pelo estudante Giovane Pasqualito Fialho, reprovado no vestibular da UFRGS para o curso de administração, embora tivesse alcançado pontuação superior à de outros candidatos. Os concorrentes que tiveram nota menor foram admitidos pelo sistema de reserva de vagas para alunos egressos das escolas públicas e negros.

Segundo o advogado de Giovane, Gustavo Bohrer Paim, o programa de cotas da universidade gaúcha não apresenta um critério efetivamente social. "Da maneira como o tema foi proposto pelo Conselho Universitário, é falacioso dizer que existe cota social na UFRGS. O que temos hoje não passa de reserva de mercado para escola pública". Na instituição, 30% das vagas são reservadas, sendo metade para alunos que tenham cursado todo ensino médio e pelo menos quatro anos do ensino fundamental em colégios públicos e metade para alunos autodeclarados negros, desde que também tenham vindo de instituições de ensino públicas.

O advogado e professor da Universidade do Vale dos Sinos (Unisinos) defende que a UFRGS só teria um programa efetivamente social se o critério para a reserva das vagas fosse a renda dos candidatos, e não apenas a formação em escola pública. "Da maneira como está, os colégios públicos de excelência do Rio Grande do Sul, como o Colégio Militar, conquistam a maioria das vagas reservadas. Essas escolas têm um processo de seleção disputadíssimo e a maior parte dos seus alunos são da classe média, ou da classe alta. São pessoas privilegiadas duplamente", diz Gustavo Boher Paim ao destacar que o seu escritório representa outros 21 estudantes que se sentiram prejudicados com o modelo adotado pela UFRGS.

A pró-reitora de Graduação da universidade, professora Valquíria Bassani, discorda que os alunos de escolas públicas de excelência, como do Colégio Militar, sejam privilegiados com as cotas. Segundo ela, o desempenho desses candidatos é tão elevado que eles não chegam a adotar o sistema. No entanto, ela considerou que o modelo da UFRGS pode sofrer mudanças ainda este ano para melhorar a política de inclusão. "O programa de cotas está completando cinco anos e vai sofrer uma reavaliação nos próximos meses, isso já estava previsto, mas consideramos que o que foi feito desde 2008 representa um importante avanço na inclusão social na universidade".

Instituições filantrópicas contestam isonomia no Prouni

A discussão em torno de políticas afirmativas também chegou às universidades particulares com a criação do Programa Universidade para Todos (Prouni), implementado a partir de 2005. A lei determina que para receberem os benefícios do programa, as universidades privadas devem reservar parte das bolsas de estudo para alunos que tenham cursado o ensino médio completo em escola da rede pública ou em instituições privadas na condição de bolsista integral, sendo que parte das bolsas deve ser concedida a negros, indígenas e pessoas portadoras de necessidades especiais. Além disso, a renda familiar não pode ultrapassar um salário mínimo e meio para a bolsa integral e três salários para a bolsa parcial.

Segundo a Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (Confenem), que ajuizou a ação junto com o DEM e a Federação Nacional dos Auditores Fiscais da Previdência Social (Fenafisp), a medida provisória que originou o Prouni não atende ao princípio constitucional da isonomia entre os cidadãos brasileiros. "A Constituição Federal diz que o acesso ao ensino superior se dá por mérito, pela competência de cada um. Aí vem o Prouni e reserva as vagas em razão de raça ou porque o aluno fez ensino médio em escola pública, isso é discriminação", afirma o presidente da confederação, Roberto Dornas.

Ele ainda diz que o programa desvirtua o conceito constitucional de entidade beneficente de assistência social. "As instituições filantrópicas, pela Constituição, não pagam imposto, são imunes de tributação. No entanto, a lei do Prouni obrigou todas essas entidades a receber como bolsistas os alunos do Prouni, pagando na forma de serviço os tribunos que pela Constituição não devem", afirmou. O programa não prevê investimento direto do Governo Federal. As instituições que aderem ao Prouni recebem isenção de quatro tributos federais: PIS, COFINS, IRPJ e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). De acordo com informações da Receita Federal, a isenção fiscal em 2009 foi de R$ 530,5 milhões.

O Ministério da Educação (MEC) não quis comentar o julgamento no STF, apenas destacou que desde o início do programa, em 2005, até o processo seletivo do primeiro semestre de 2012, chegou a 1 milhão o total de estudantes atendidos com bolsas em instituições privadas.

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terça-feira, 24 de abril de 2012

Por que não comemoramos o Dia do Índio?

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"Tínhamos a terra e eles a bíblia. Ficamos com a bíblia deles, levaram a nossa terra" (um índio)
Salvo exceções, passou mais uma vez em branco o Dia do Índio. Que, a rigor, jamais recebeu a atenção apropriada. O que se vê por aí, no máximo, é a meninada do ensino fundamental pintando a cara, o bando do congresso fazendo proselitismo político e a turma do tuíter levantando hashtags. Na verdade, nunca se comemorou o Dia do Índio. O que se comemora, desde a criação da efeméride no governo Vargas, é muito mais a expressão de um civismo branco do que a memória, a cultura e o holocausto indígena. Comemora-se uma espécie de “Dia do Folclore do Índio”. Não o Dia do Índio. E o indígena genuíno, a vítima da História, o ator da própria cultura, o sujeito das vicissitudes do homem branco, capitalista e cristão, é negligenciado. Como de resto sempre foi. Aliás, e às vezes, por eles próprios. Assim, entre hidrelétricas, cinema e disputas de terras, o chamado Dia do Índio vai se esvanecendo, anacrônico, cada vez mais insignificante, absorvido e diluído na desimportância da cultura de massa... Enquanto o halloween e o valantine's day (do dia 14 de fevereiro) alcançam novos e fiéis adeptos tupiniquins a cada ano.

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domingo, 15 de abril de 2012

Ridendo castigat mores

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"- Vou ali dar um jeito de salvar nosso casamento.
- Ah é? Então você vai parar de beber, de me trair, de bater em mim e procurar aconselhamento matrimonial?
- Claro que não, caramba! Eu vou é votar contra o casamento gay."



“As pessoas diziam que nosso casamento era antinatural e que iria destruir a sagrada instituição do matrimônio. Diziam também que nosso amor jamais poderia produzir uma família normal e saudável. Eles diziam que o próximo passo seria legalizar o incesto ou a bestialidade. Mas, mesmo assim, eu me casei com a sua mãe.”





“O governo não deve NOS dizer em que acreditar! Mas deve dizer a ELES!!!”

(traduções livres)
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sexta-feira, 13 de abril de 2012

Ampliando a discussão: o ácido fólico na prevenção da anencefalia

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O aborto de fetos anencéfalos agora é mais acertadamente conhecido como interrupção terapêutica da gravidez  – não é mais crime, nos distanciamos um pouco mais da Idade Média. Espera-se, agora, que a sociedade e o Poder Público não se furtem a manter a discussão do tema “aborto” na ordem do dia. Há muito ainda que progredir.

Mas passemos ao tema central desta postagem. Além da discussão jurídica, cabe destacar um aspecto que, embora relevante, não recebeu nos últimos dias muita atenção: a prevenção da anencefalia. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), a ocorrência da malformação no Brasil é de um para cada 1.600 nascimentos, predominantemente no sexo feminino (1). Sua manifestação se deve a uma falha no processo embrionário durante a formação do tubo neural e há algumas causas prováveis identificadas pela medicina, cujo grau de importância é variável. É seguro dizer que uma das causas principais é a ocorrência de falhas no metabolismo do ácido fólico (2). Quanto às demais causas, o blog – que não é especializado – se preserva de comentá-las devido a eventuais e possíveis más interpretações (para  informações adicionais consulte os links de referência no fim da página).

A prevenção – ou, melhor dizendo, a diminuição do risco – portanto, consistiria na administração de ácido fóllico durante determinado período da gestação. Há estudos que sugerem que a administração de 400 microgramas de ácido fólico durante o desenvolvimento embrionário-fetal reduz em até 70% a incidência de DTNs (3, 4) – sigla para defeitos de fechamento do tubo neural, grupo de malformações cuja anencefalia é a forma mais grave. Desde 2002, por exigência do Ministério da Saúde, as farinhas de trigo e milho produzidas no Brasil devem ser enriquecidas com ácido fólico e ferro (4). Resta saber, contudo, se os fabricantes vêm cumprindo tal determinação, bem como se os órgãos de fiscalizando estão atentos a ela. Seguimos confiando?

Há também os grupos de alimentos que são boas fontes de ácido fólico (ou folato, uma outra forma da substância), com destaque para o amendoim - 240 mcg, o espinafre - 146 mcg, o brócolis - 108 mcg e a castanha de caju - 69 mcg (por 100 g de alimento; fonte: Tabela de Composição Química dos Alimentos da UNIFESP). Porém, ainda que a literatura especializada indique a rica composição nutricional dos alimentos em questão, há outros elementos a observar, como a biodisponibilidade, a taxa de absorção, a interação nutricional, a suscetibilidade de cada paciente etc. De qualquer modo, a suplementação de ácido fólico, bem como a de outros nutrientes (ferro, por exemplo), é recomendada durante a gravidez. E, claro, é imperativo o acompanhamento pré-natal especializado, médico e nutricional.

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Referências:

(1) http://jus.com.br/revista/texto/19826/interrupcao-da-gestacao-do-feto-anencefalo-aborto-ou-antecipacao-terapeutica-do-parto/2

(2) http://pt.wikipedia.org/wiki/Anencefalia

(3) http://www.ghente.org/entrevistas/oqueeanencefalia.htm

(4) http://www.anvisa.gov.br/divulga/informes/2002/120602.htm

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1ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura - Brasília, 14 a 23 de abril de 2012

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Iniciativa inédita, a 1ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura de Brasília terá entrada franca e a presença de Wole Soyinka, Prêmio Nobel de Literatura de 1986

Sob a coordenação literária do jornalista e escritor Luiz Fernando Emediato – da Geração Editorial, mesma editora do recordista de vendas A Privataria Tucana, de Amaury Ribeiro Jr. – o evento ocupará 50 mil m² na Esplanada dos Ministérios e reunirá 120 editoras e autores de todos os continentes. Entre eles, o primeiro negro a receber um Prêmio Nobel de Literatura, o nigeriano Wole Soyinka, até agora inédito no Brasil, que lançará a tradução de The Lion and the Jewel, em edição especial para o evento.

A abertura oficial será no sábado, dia 14 de abril, às 10 horas da manhã, com a entrega do Prêmio Brasília de Literatura, com mais de 600 trabalhos inscritos nas categorias Biografia, Contos e Crônicas, Literatura Infantil e Juvenil, Poesia, Romance e Reportagem, e distribuição de R$ 240 mil em prêmios. Estarão presentes o Governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, o Secretário de Cultura, Hamilton Pereira, e o Secretário de Educação, Denilson Bento.

Além do Nobel de Literatura, a programação da Bienal trará para Brasília a Jornada Literária da América Hispânica, sob a coordenação do jornalista, escritor e tradutor Eric Nepomuceno (tradutor de Cortazar e García Marquez, entre outros); os seminários A Literatura Africana Contemporânea e Bibliotecas para o Brasil; o Encontro Ibero-Americano de Bibliotecas Rurais; além de homenagem ao escritor Ziraldo, que dispensa apresentação.

Durante todo o período da Bienal, diariamente e em três diferentes horários, serão exibidos no Café Literário os vídeos da série Impressões do Brasil, produção brasiliense em 30 capítulos com entrevistas sobre temas literários de um impressionante time de autores: Lêdo Ivo, Thiago de Mello, Carlos Heitor Cony, João Gilberto Noll, Fernando Morais, Ferreira Gullar, Ruy Castro, Lourenço Mutarelli, Lourenço Cazarré, Reynaldo Jardim, Lygia Bojunga, Milton Hatoum, Ignácio de Loyola Brandão, Luiz Ruffato, Martha Medeiros, Affonso Romano de Sant'Anna, Luís Fernando Veríssimo, Alice Ruiz, Marçal Aquino, Lya Luft, Cristóvam Buarque, Letícia Wierzchowski, Márcio Souza, Cristóvão Tezza, Nelida Piñon, João Ubaldo Ribeiro, Lira Neto, Lygia Fagundes Telles, Zuenir Ventura e Ziraldo.
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Para a programação completa, acesse:



Para mais sobre o evento, acesse o site oficial:



1ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura, de 14 a 23 de abril de 2012, na Esplanada dos Ministérios. Horário de visitação a partir de 9 horas. Mais informações: (61) 3034-2985 / 3321-9922; contato@bienalbrasildolivro.com.br

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quinta-feira, 12 de abril de 2012

Ri melhor quem ri gostoso

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Até onde se sabe, o riso é privilégio da espécie humana. Aliás, se não me falha a Wikipédia, há uma área do conhecimento que trata especialmente do riso (humano, obviamente), a gelotologia.

Macacos, quando supostamente sorriem, só arreganham os dentes – mera e instintiva expressão para ritos de socialização, corte ou competição. Quanto aos simpáticos golfinhos, a sugerir nos “lábios” certo sorriso amistoso, o tal “sorriso” não é mais que o produto do desenho da boca de um predador comedor de peixes – e dos mais eficientes. Cachorrinhos domésticos também seriam, segundo seus “donos”, capazes de sorrir – só se for no embotado entendimento dos mesmos donos que os vestem como se fossem guris e que lhes promovem belas festas de aniversário com direito a algodão-doce que eles nunca vão comer e a velinhas que eles nunca vão assoprar.

Na verdade, quem sorri, em essência, e de fato, somos nós, os seres humanos. Ou alguns de nós, seres humanos...

Mesmo entre os humanos, cujo sorriso pode ser confirmado pela genética, ele é raro – o sorriso autêntico, pelo menos, é raro. O que dizer então da gargalhada, esse fenômeno tão exclusivamente nosso, e ainda mais raro que o sorriso?...

Das pessoas que conheço ou conheci, há muitas que nunca vi gargalhar. Sorrisos contidos, daqueles exclusivamente humanos, deles até há muitos por aí. Mas gargalhadas... Poucos têm esse talento. Meu pai jamais gargalhava, muito embora fosse capaz de um sorriso franco, às vezes enternecido, jamais sem propósito. Minha mãe, ao contrário, sempre gargalhou. Minha mãe gargalha se cai um garfo, que dirá se a piada for boa. E para felicidade do mundo, continua gargalhando.

Então, acho que já é boa hora para revelar o porquê de todo esse ensaio. Tudo isso é pra dizer que há uma gargalhada que me comove em particular. Se não apenas pela lindeza – porque a rizada dela é linda – ou pela franqueza – porque a rizada dela é franca –, mas também porque gargalhamos juntos o tempo todo. Aliás, das tantas coisas que gosto nela, uma que me fascina em particular é o seu talento para sorrir, para rir, para gargalhar...

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Anencéfalo morre ao nascer em Cuiabá – mãe esperava decisão judicial

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Enquanto, em Brasília, os ministros do STF proferiam seus votos quanto à interrupção da gravidez de fetos anencéflaos, morria, às 14 horas de ontem no hospital Clínica e Maternidade Femina de Cuiabá, um recém-nascido anencéfalo. A mãe, Brendha Evely Soares de Souza, de 19 anos, aguardava julgamento de pedido de autorização para interrupção da gravidez, que se encontra na segunda instância, no Tribunal de Justiça de Matro Grosso.

A gestação estava no oitavo mês, e segundo informações do hospital, o bebê sobreviveu por cerca de um minuto após o parto prematuro. A família informou que a condição foi diagnosticada na 16ª semana da gestação e a mãe decidiu solicitar na Justiça a autorização para interromper a gravidez. O pedido foi negado na primeira instância. Até ontem, às 14 horas, quando o feto anencéfalo foi removido cirúrgicamente do útero materno, a família ainda aguardava o resultado do recurso impetrado no Tribunal de Justiça de Mato Grosso.

A família informou também que esperava com ansiedade pelo dia da votação sobre a questão no STF. A decisão favorável permitiria a imediata intervenção para interrupção terapêutica do parto. Não houve tempo. A gestante entrou em trabalho de parto na manhã de ontem. Brendha tem 19 anos de idade e continua internada, devido à complicações cirúrgicas. Desejamos a ela uma pronta recuperação.

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Com informações da
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quarta-feira, 11 de abril de 2012

Curtas

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No Jornal da Globo News da noite de ontem, e na Rádio CBN agora há pouco, o economista Carlos Alberto Sardenberg falava sobre os determinantes do alto spread bancário praticado no Brasil sem destacar o principal: a alta margem de juros dos bancos.

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CNBB e outras entidades convocam manifestação “pró-vida” em frente ao Supremo Tribunal Federal para acompanhar o julgamento da ação que permitirá a interrupção da gravidez de fetos anencéfalos. E o outro lado, cadê? Não haverá manifestantes pró-liberdade, pró-mulher, pró-laicismo..? Ainda há tempo para mobilização.

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Os pais da menina Vitória de Cristo, cuja fotografia e condição clínica foram leviana, inadvertida e equivocamente utilizadas para reforçar a coluna dos “pró-vida” nas redes sociais, deixam apelo no seu blog pessoal no sentido de que cessem os compartilhamentos e comentários da corrente. Eis o link.

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Depois da polêmica decisão da Terceira Seção do STJ que relativizou a presunção de violência no crime de estupro, a Quinta Seção daquela Corte decide, desta feita acertadamente, que a proteção instituída pela Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06) deve abranger toda mulher submetida à violência de qualquer tipo no âmbito da unidade doméstica, da família ou de relação íntima de afeto.

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Edição impressa do Correio Braziliense de hoje publica carta emocionada e emocionante escrita pelo pai de Saulo Jansen, morto em assalto na 413 Norte na última sexta-feira. À parte a tragédia familiar, o fato colocou em evidência os equívocos da chamada “operação tartaruga”, apesar da justa reivindicação salarial dos policiais militares. O comandante da PM foi exonerado e, aparentemente, houve acordo entre PM e governo encerrando a famigerada operação.

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Fim da operação tartaruga - A comunidade agradece

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A seguir, nota pública assinada por representantes da Polícia Militar e do governo do Distrito Federal, divulgada após reunião ocorrida na noite de ontem que, aparentemente, porá fim à Operação Tartaruga deflagrada pelos policias militares do DF há 56 dias.

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NOTA PÚBLICA
O Governo do Distrito Federal e as entidades representativas dos servidores militares da Polícia e do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal, reunidos na noite de 10 de abril de 2012, resolvem informar o que segue:
a) O Governo do Distrito Federal firma o compromisso com os servidores militares da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal de continuar as negociações visando discutir a Pauta de Reivindicações entregue na Secretaria de Estado de Administração Pública.
b) Por outro lado, as entidades representativas dos servidores militares da Polícia e do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal se comprometem a encerrar qualquer tipo de movimento interno às corporações que dificultam o desempenho da prestação de serviços de segurança pública à população do Distrito Federal.
(Com informações do Brasília 247)
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terça-feira, 10 de abril de 2012

STJ: uma no cravo, outra na ferradura

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Depois da polêmica decisão da Terceira Seção do STJ que relativizou a presunção de violência no crime de estupro (leia, a respeito, nota da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República), a Quinta Seção daquela Corte decide, desta feita acertadamente, que a proteção instituída pela Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06) deve abranger toda mulher submetida à violência de qualquer tipo no âmbito da unidade doméstica, da família ou de relação íntima de afeto.

A decisão decorre de denegação de habeas corpus a um indívíduo acusado de agredir a cunhada que residia com ele e a esposa. A relatora do processo, ministra Laurita Vaz, esclarece que, se “a Lei 11.340 tem o intuito de proteger a mulher da violência doméstica e familiar que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial”, para que o preceito legal seja aplicado basta que a agressão seja cometida “no âmbito da unidade doméstica, da família ou em qualquer relação íntima de afeto”.

O blog, desta vez, comemora a decisão do ínclito tribunal superior.

Leia a nota da Coordenadoria de Imprensa do STJ sobre a decisão.


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segunda-feira, 9 de abril de 2012

Notícias: a boa, a má e a feia

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A boa notícia é que, pressionadas pela forte queda na taxa de juros praticada pelos bancos oficiais, as instituições particulares vão ter que se ajustar se quiserem competir. A Caixa, por exemplo, anunciou reduções de 67% ao ano nos juros do cheque especial e de 40% ao ano para cartões de crédito. O Banco Central já estuda a criação de um ranking para divulgar o spread bancário, que é basicamente a diferença dos juros pagos pelo dinheiro investido e os juros cobrados pelo dinheiro emprestado. (fonte: Jornal do Commercio)

A má notícia é que a tag #afavordavida, num arroubo de equívoco conceitual, chegou a frequentar os TTs do twitter na manhã de hoje. Enquanto isso, a CNBB, mais uma vez na contramão da história, convoca vigília de “oração pela vida” no STF na próxima quarta, quando será julgada a ADPF 54/2004 sobre o aborto de fetos anencéfalos. (fonte: Jornal do Brasil)

A notícia feia (e sem prejuízo da justa reivindicação dos policiais militares do DF, cujo argumento de ser a PM mais bem paga do Brasil não justifica não ter melhoria salarial - como de resto todas as outras deveriam ter), é esta:


Escondidos no anonimato da internet, alguns policiais militares usam as redes sociais para tripudiar sobre a insegurança sentida pela população brasiliense. O Correio teve acesso a uma comunidade restrita da Polícia Militar do DF e se deparou com mensagens que comemoram os altos índices de violência. Há, inclusive, um manual para como se portar durante a Operação Tartaruga, deflagrada por alguns grupos de servidores em 15 de fevereiro.

Entre as dicas, um usuário recomenda até que o rádio dos carros da PM seja pouco utilizado para comunicação, evitando, assim, que os superiores saibam sobre o andamento do movimento. Os manifestantes reivindicam aumentar o salário de oficiais e de praças. A PMDF é a mais bem paga do país.

Outros usuários têm comemorado a sensação de insegurança sentida na capital federal. “Tirando a família papa myke (PM), eu quero é que o paisano (civil) se exploda!”, postou um deles. Outra mensagem debocha do homicídio ocorrido na noite de sexta-feira, na 413 Norte. “Venho através dessa comunidade agradecer pela ação do bandido, que trouxe à tona nosso movimento.”

O Correio apurou que, em resposta à Operação Tartaruga, a PM ordenou medidas para dar mais sensação de segurança à população. Pelo menos quatro batalhões determinaram que os deslocamentos de veículos ocorram com as luzes da sirene acesas. “A ordem serve só para melhorar a imagem, mas nada adianta. Continuamos parados, sem abordar ninguém”, disse um soldado.

Pelo menos 22 praças, lotados em Ceilândia, em Samambaia, no Recanto das Emas e no Gama, serão transferidos de unidade na próxima segunda-feira. A medida seria uma represália ao movimento.

Operação

Durante a operação-padrão, os militares evitam se dirigir a situações corriqueiras, não trafegam acima da velocidade das ruas e diminuem o policiamento ostensivo. Eles buscam melhorar o plano de carreira e equiparar o salário — que não é reajustado há quatro anos — ao de agentes da Polícia Civil e do Detran. Apesar de as forças armadas não poderem entrar em greve, de acordo com o Código Penal, este tipo de movimento é constitucional.

(Fonte: CorreioWeb)

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Manchetes desta segunda

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- Correio Braziliense: Até secretário de segurança sente a falta da PM na rua

- Jornal de Brasília: Segurança reprovada pelos brasilienses

- Destak DF: Primeira parcela do IPVA começa a ser cobrada hoje

- Diário da Manhã: Alimento do sono

- Folha de SP: Falta juiz da infância em São Paulo, afirma CNJ

- O Estado de SP: Mercado aquecido estimula brasileiros a mudar de emprego

- Valor Econômico: Banco do Brasil reformula operações do Votorantim

- Jornal do Brasil: Anencefalia: CNBB convoca vigília para julgamento no STF

- O Globo: PF investiga suspeita de compra de vagas na Unirio

- Jornal do Commercio: BC estuda criar ranking para revelar spread bancário

- Estado de Minas: Infância interrompida. Exploração sem fim

- Hoje em Dia: PIB de Minas é o maior dos últimos 15 anos

- Correio da Bahia: Vantagem tricolor

- Diário de Pernambuco: Violência estúpida

- O Liberal: No Pará, 90% das prefeituras estão mal das finanças

- Gazeta do Povo: ONGs sob investigação

- Zero Hora: Guerra do juro mais baixo deve se acirrar no Estado

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Destaques de capa: clipping da Radiobrás

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quinta-feira, 5 de abril de 2012

Carta Capital vem com tudo!

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Nesta semana CartaCapital aborda os desdobramentos do caso Demóstenes, Cachoeira e Perillo. E também: o sumiço da edição 691 das bancas de Goiânia. A seguir, a corajosa capa e o editorial de lavar a alma!




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Demóstenes, Marconi e Policarpo

Por Mino Carta

O caso do senador Demóstenes Torres é representativo de uma crise moral que, a bem da sacrossanta verdade, transcende a política, envolve tendências, hábitos, tradições até, da sociedade nativa. No quadro, cabe à mídia um papel de extrema relevância. Qual é no momento seu transparente objetivo? Fazer com que o escândalo goiano fique circunscrito à figura do senador, o qual, aliás, prestimoso se imola ao se despedir do DEM. DEM, é de pasmar, de democratas.
Ora, ora. Por que a mídia silencia a respeito de um ponto importante das passagens conhecidas do relatório da Polícia Federal? Aludo ao relacionamento entre o bicheiro Cachoeira e o chefe da sucursal da revista Veja em Brasília, Policarpo Júnior. E por que com tanto atraso se refere ao envolvimento do governador Marconi Perillo? E por que se fecha em copas diante do sequestro sofrido por CartaCapital em Goiânia no dia da chegada às bancas da sua última edição? Lembrei-me dos tempos da ditadura em que a Veja dirigida por mim era apreendida pela PM.
A omissão da mídia nativa é um clássico, precipitado pela peculiar convicção de que fato não noticiado simplesmente não se deu. Não há somente algo de podre nas redações, mas também de tresloucado. Este aspecto patológico da atuação do jornalismo pátrio acentua-se na perspectiva de novas e candentes revelações contidas no relatório da PF. Para nos esclarecer, mais e mais, a respeito da influência de Cachoeira junto ao governo tucano de Goiás e da parceria entre o bicheiro e o jornalista Policarpo. E em geral a dilatar o alcance da investigação policial.
Quanto à jornalística, vale uma súbita, desagradável suspeita. Como se deu que os trechos do documento relativos às conversas entre Cachoeira e Policarpo tenham chegado à redação deVeja? Sim, a revista os publica, quem sabe apenas em parte, para demonstrar que o chefe da sucursal cumpria dignamente sua tarefa profissional. Ou seria missão? No entanto, à luz de um princípio ético elementar, o crédito conferido pelo jornalista às informações do criminoso configura, por si, a traição aos valores da profissão. Quanto à suspeita formulada no início deste parágrafo, ela se justifica plenamente: é simples supor vazamento originado nos próprios gabinetes da PF. E vamos assim de traição em traição.
A receita não a dispensa, a traição, antes a exige nas mais diversas tonalidades e sabores. A ser misturada, para a perfeição do guisado, com hipocrisia, prepotência, desfaçatez, demagogia, arrogância etc. etc. E a contribuição inestimável da mídia, empenhada em liquidar rapidamente o caso Demóstenes, para voltar, de mãos livres, à inesgotável tentativa de criar problemas para o governo. Os resultados são decepcionantes, permito-me observar. A popularidade da presidenta Dilma acaba de crescer de 72% para 77%.
E aqui constato haver quem tenha CartaCapital como praticante de um certo, ou incerto, “jornalismo ideológico”. Confesso, contristado, minha ignorância quanto ao exato significado da expressão. Se ideológico significa fidelidade canina à verdade factual, exercício desabrido do espírito crítico, fiscalização diuturna do poder onde quer que se manifeste, então a definição é correta. E é se significa que, no nosso entendimento, a liberdade é apanágio de poucos, pouquíssimos, se não houver igualdade. A qual, como sabemos, no Brasil por ora não passa de miragem.
E é se a prova for buscada na nossa convicção de que Adam Smith não imaginava, como fim último do capitalismo, fabricantes de dinheiro em lugar de produtores de bens e serviços. Ou buscada em outra convicção, a da irresponsabilidade secular da elite nativa, pródiga no desperdício sistemático do patrimônio Brasil e hoje admiravelmente representada por uma minoria privilegiada exibicionista, pretensiosa, ignorante, instalada no derradeiro degrau do provincianismo. Ou buscada no nosso apreço por toda iniciativa governista propícia à distribuição da renda e à realização de uma política exterior independente.
Sim, enxergamos no tucanato a última flor do udenismo velho de guerra e em Fernando Henrique Cardoso um mestre em hipocrisia. Quid demonstrandum est pela leitura do seu mais recente artigo domingueiro na página 2 do Estadão. O presidente da privataria tucana, comprador dos votos parlamentares para conseguir a reeleição e autor do maior engodo eleitoral da história do Brasil, afirma, com expressão de Catão, o censor, que se não houver reação, a corrupção ainda será “condição de governabilidade”.
Achamos demagógica e apressada a decisão de realizar a Copa no Brasil e tememos o fracasso da organização do evento, com efeitos negativos sobre o prestígio conquistado pelo País mundo afora nos últimos dez anos. Ah, sim, estivéssemos de volta ao passado, a 2002, 2006 e 2010, confirmaríamos nosso apoio às candidaturas de Lula e Dilma Rousseff. Se isso nos torna ideológicos, também o são os jornais que nos Estados Unidos apoiaram e apoiarão Obama, ou que na Itália se colocaram contra Silvio Berlusconi. Ou o Estadão, quando em 2006 deu seu voto a Geraldo Alckmin e em 2010 a José Serra.
Não acreditamos, positivamente, que de 1964 a 1985 o Brasil tenha sido entregue a uma “ditabranda”, muito pelo contrário, embora os ditadores, e seus verdugos e torturadores, tenham se excedido sem necessidade em violência, por terem de enfrentar uma resistência pífia e contarem com o apoio maciço da minoria privilegiada, ou seja, a dos marchadores da família, com Deus e pela liberdade. Hoje estamos impavidamente decepcionados com o comportamento de muitos que se apresentavam como esquerdistas e despencaram do lado oposto, enquanto gostaríamos que a chamada Comissão da Verdade atingisse suas últimas consequências.
Agora me pergunto como haveria de ser definido o jornalismo dos demais órgãos da mídia nativa, patrões, jagunços, sabujos e fâmulos, com algumas exceções, tanto mais notáveis porque raras. Ideologias são construídas pelas ideias. De verdade, alimentamos ideias opostas. Nós acreditamos que algum dia o Brasil será justo e feliz. Eles querem que nada mude, se possível que regrida.

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